quinta-feira, 26 de agosto de 2010

DIRETO DO QUIPROCÓ PARA SEU ENTENDIMENTO:

Assisti na televisão uma matéria jornalistica sôbre os problemas de saúde por que passa a Mestra Hilda. Fiquei muito triste, ao saber que nenhum tipo de ajuda vem sendo dada a ela, que dedicou sua vida inteira em favor da cultura, levando a sua dança e a sua alegria humilde e descompromissada ao povo alagoano. Achei por bem postar na íntegra, neste nosso blog, um dos artigos mais adequados a esta situação de descaso em que vive a cultura. Aliás, poucos se posicionaram sôbre o assunto. Escrito por Macleim em seu blog, QUIPROCÓ, o texto se encaixa como luva neste episódio, onde outros interêsses, ofuscam a razão daquêles que deveriam ser justos com quem tanto deu de si para o engrandecimento da nossa cultura.

RESPEITO; EM MADAGASCAR (Macleim)
Já andei ouvindo por aí se deve ser folclore ou cultura popular a denominação correta para a expressão artística do nosso povo. A meu ver, é pura masturbação intelectual que acontece em tertúlias de quem não põe a mão na massa (como eu) e sabe muito bem que questões muito mais importantes e urgentes precisam ser pensadas e resolvidas nessa seara
Ontem (22/08) se comemorou mais um Dia do Folclore. Mas, e daí? Tenho a impressão de que se for feita uma avaliação histórica, pouca coisa deve ter mudado desde que, há sete anos – também no Dia do Folclore –, vi na TV à saudosa Maria Vitória, Mestra de Guerreiro, falando de suas agruras para manter viva uma das mais autênticas manifestações do folclore alagoano. Ela dizia que todo paramento do seu Guerreiro era comprado com a sua minguada aposentadoria, e que ninguém lhe ajudava com uma fitinha colorida sequer. Se, pelo menos, ela tivesse uma aposentadoria do nababesco poder judiciário (tipo aquelas que os magistrados recebem como punição pelas falcatruas cometidas no exercício da função), vá lá, estaria reclamando de barriga cheia. Infelizmente, Mestra Vitória já partiu fora do combinado, porém, os mestres e mestras que ainda estão na lida vivem à míngua e sendo explorados. De pires nas mãos, tornam-se presas fáceis e são ferramentas de grande utilidade para demagogia política que, não é de hoje, detectou o quanto essas pessoas são vulneráveis por possuírem em si a pureza e a transparência do clamor contido no propósito da alma: exercer a arte que lhes foi transmitida. São manipuláveis, apesar da força arrebatadora do "trupel", nos ritmos marcados por instrumentos não-sofisticados. São indefesos, apesar dos cantos e loas vigorosos nas vozes ásperas e expressionistas daqueles que, de berço, trazem a cultura popular pululando em suas veias.
A penúria deles pode estar perversamente conectada ao nosso bem-estar. Por isso, chamem como quiser: assistencialismo, paternalismo, seja lá o que for; o fato é que os poucos mestres e mestras contemplados pela Lei de Registro do Patrimônio Vivo (Lei dos Mestres) são mais do que credores meritórios, são dignos de algo ainda mais substancial e tão necessário quanto o RESPEITO. Isso me faz lembrar um fato que aconteceu comigo e pode ilustrar com clareza o que deveria ser regra com os nossos artistas do folclore ou cultura popular, como queiram.
Estávamos em turnê pela Europa quando tive a oportunidade de assistir a uma apresentação do grupo folclórico de Madagascar, Feo-Gasy. Após o show, fui convidado para jantar com eles e aproveitei para pedir o autógrafo de cada um, no disco que eu havia comprado. Um por um foi perguntando meu nome e autografando nas respectivas páginas em que havia suas fotografias, no encarte do disco. Quando, finalmente, cheguei ao líder do grupo, Rakoto Frah, um velhinho que, suponho, tinha mais de 80 anos, ele não perguntou meu nome e apenas fez um rabisco em forma de zig-zag horizontal. Intrigado com aquilo, perguntei a outro componente do grupo se realmente era assim a assinatura dele. Ele então me respondeu que não era uma assinatura, pois Rakoto Frah era analfabeto. Na seqüência, pegou sua carteira porta-cédula, retirou uma nota, dinheiro de Madagascar, e me mostrou. Na cédula estava impresso o rosto de Rakoto Frah, um mestre da cultura popular em Madagascar

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