sábado, 15 de outubro de 2011

UM POUQUINHO DE SAUDADE NÃO FAZ MAL II








Já faz um bom tempo que não converso com todos que prestigiam neste espaço.  Estive fora, em férias. Fui atrás de novidades e também rever parentes e amigos do passado. Os parentes revi, os amigos, nem todos. Mas ainda assim consegui colocar em dia algumas de minhas melhores memórias. Por isso, deixo aqui o meu agradecimento a todos que me receberam tão bem lá na na minha querida "Cidade Maravilhosa". Gostaria de citá-los, um a um mas,
 tenho medo que a memória me traia !

Agradecer talvez seja pouco em alguns casos tal como aconteceu no reencontro com meus amigos que me proporcionaram um dos momentos mais emocionantes desta viagem, um reencontro realmente marcante para mim. Matei saudades, chorei muito, coração saindo pela boca e me descobri um seleto saudosista, que ainda segue velhos conceitos afetivos. A vida, essa louca vida, sempre é bondosa conosco e permite que mesmo não tendo nada, tenhamos tudo. A família e as boas amizades, valem tudo na vida.
Deixo aqui, num momento muito particular, a minha homenagem a todos que tão bem me receberam na confraternização do dia 7 de Setembro e particularmente a Tânia Patrocínio de Melo (mais uma vez) e Barbara Billion, Deixo versos verdadeiramente sinceros da minha maior emoção que agora partilho com todos vocês, meus amigos. Obrigada Tânia, a nossas emoções estarão ligadas para sempre. Valeu !

O sapateiro, o banco e o saxofone (Rui Agostinho)

Parece que vejo ainda,
Sentado em seu banquinho rude,
Aquele velho amigo falante,
Que contava segredos à miúde.

Da sua preocupação ao fazer sapatos,
Falava com muito esmero,
Hoje é uma arte, muito esquecida,
Pelas pessoas do mundo inteiro.

Olhar fixo no trabalho,
Unindo palmilha e couro,
A Rua 19 ao fundo, vitrine aberta,
Paisagem, seu mundo imediato.

Cola e sola, martelo e taxa,
Mãos calejadas, porém ágeis
Tinta preta na lateral da sola,
No acabamento um fino trato.

Salto verniz e muito cuidado,
Com tôda atenção ao perguntado
Mas sem nunca deixar de lado,
A eficiência do seu trabalho.

Eu questionava e buscava insatisfeito,
Respostas as minhas curiosidades de criança,
Como se abraçasse uma enciclopédia humana
Cheia de conhecimentos extras.

Por que isso por que aquilo,
O que é forma, o que é taxinha?
Com cabeça, sem cabeça
Por que o alicate puxa o couro sempre na beiradinha?.

Perguntava até de onde é que vinha
A matérial por ele usado,
Quem fornecia, quem fabricava,
Quem comprava e quem, pagava.

Lá para o fim da tarde, depois de muita pergunta,
Tinha a parada estratégica, de quinze a vinte minutos,
Era a parte que mais me agradava, hora da comidinha.
Uma espécie de ritual sagrado, o cheiro bom vinha lá da cozinha,

Era nessa hora que D. Selma alegre trazia
Canecas de café quentinho com biscoitos maizena
Pro Seu Leone e pra mim, é óbvio,
Uma espécie de prêmio diário pelo seu trabalho,

Mas que pensa que tudo parava por aí, estava enganado!,
Vez por outra e quando se aproximava o Carnaval,
O banquinho virava palco de grandes sucessos musicais,
Pois "Seu Leone", velho sapateiro, em músico se transformava.

Trocava o fio da faca afiada e o couro,
Pelos registros do seu saxofone,
Instrumento bonito e sonoro,
Que de tão polido e brilhante , até parecia de ouro.

E ensaiava pro Carnaval, que chegava
As marchinhas que guardara o tempo todo.
No fim da tarde eu saia, satisfeito e faceiro.
Cantarolando as canções tocadas pelo velho sapateiro

“Alalaô ô ô ô ô”,
Mas que calor ô ô ô ô ô ô !
“Eu sou o pirata da perna de pau,
Do olho de vidro, da cara de mau.

"Colombina onde vai você ?
Eu vou dançar o iê iê iê !"
"Êh êh êh êh êh, índio quer apito,
Se não der pau vai comer".

Mas da verdade eu nunca me esqueço,
A arte da música penetrou em minhas veias
Através deste homem simples e correto,
Misto de sapateiro e músico, da vida, um arquiteto.

Da sua arte no couro e sua vertente musical
Provavelmente, jamais esquecerei
Sem engano, convicto da sua importância,
Pra mim e pra tôda sua família

Relembro e o coloco pra sempre,
No lugar mais feliz da minha infância,
Senhor de seus dois ofícios,
Sapateiro e músico, um soprador de esperanças !


Dedico esses versos a seus filhos: Leonir (in memorian) Tânia, Luiz Carlos, Kátia, Márcia e Mônica. Todos Patrocínio !
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