domingo, 9 de dezembro de 2012

SANTA TERESA - A CIDADE A MEUS PÉS (RUI AGOSTINHO)



Tive uma recaída, claro, só pode ser uma recaída. Assistindo a um programa de televisão, não me lembro bem o canal, sobre a vida e as sensações dos moradores deste bairro tradicional que tem nome de santa, SantaTeresa. Abrigo de moradores fiéis aos seus hábitos, já que  a maioria deles, muitos quase centenários, gostam desse lugar quase paradisíaco. Santa Teresa é um bairro mirante, raríssimas vezes é ocupado por muita gente, apenas por moradores ocasionais, que na maioria das vezes, são estudantes que ocupam vagas nas muitas pensões e repúblicas existentes no bairro. Para chegar ao bairro a já famosa escadaria, ruas estreitas e o famoso bonde da Lapa, atração turística internacional.
Me recordei de alguns fragmentos visuais, de algumas imagens que ficaram guardadas em minha mente, quando ainda adolescente, vivenciei no bairro. Lá de cima, muitas vezes observei em primeiro plano, a vida, das pessoas, principalmente a noturna, nesses pontos importantes do centro do Rio, principalmente a Lapa com seus Arcos, a praça Tiradentes, Largo da Carioca, Cinelândia, a Glória, com seu belíssimo monumento sacro, o Outeiro da Glória. Essas memórias, já não tão fotográficas, hoje, muito mais emocionais, me fazem arriscar este texto poético, nem sempre com rima, mas saído do fio da minha alma.

SANTA TERESA (Rui Agostinho)

Santa Teresa !
Ainda estou em Santa Teresa.
Não quero morar noutro lugar !
A cidade aos meus pés,
Beijo a cidade !

Ainda ouço ao longe os ruidos,
provenientes do fim da madrugada,
Dançarinos e prostitutas ensaiam,
Seus derradeiros passos,
Desgastando seus sapatos,
Ao som de boleros,
No calçadão da Lapa.

Daqui posso vê-los, incólumes
Os arcos, insensíveis aos raiar de um novo dia,
Nunca olham para o céu,
Não permitem o fim da noite na cidade.

Em breve, quebrando a sutileza desta cena,
o bondinho começa a circular.
trazendo ao convívio da rotina,
Até mesmo os boêmios,
que não tiveram tempo de dormir... pra trabalhar.

E o Rio amanhece aos pés de Santa Teresa.
Os arcos recebem os primeiros raios de sol,
E as pessoas percebem um novo som,
Não mais aquele, alegre, noturno, da Estudantina,
Mas sim, um outro, das  portas dos bares se fechando.

É incrível, todos passam bem próximos,
Das fachadas das boates e cabarés,
Preocupados com seus afazeres,
E mal podem perceber, onde a vida mora,
Onde diariamente, essa vida se revela..

Em breve, serão outras cores, outras luzes,
Um colorido, vivo, desta gente que espera,
assim como se aguarda o Carnaval, a primavera,
um bom sonho, boa sorte,  uma  quimera,
O começo, meio e o fim desse meu Rio...

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